As forças da natureza, da comunidade e da bondade

A casa de Carmen Suriel é o seu santuário pessoal. Está repleta de árvores verdes e exuberantes com maracujás pendurados, folhas de banana-da-terra viradas para o céu, flores tropicais a sair pelo portão da frente e Coni, um coelho branco como uma nuvem, que guarda silenciosamente o jardim de Carmen.

"Ele gosta de brincar aos modelos", brinca Carmen sobre o coelho sério, mas adorável. Mas Carmen também é um modelo: um modelo a seguir.

Nascida na República Dominicana, Carmen vive em Porto Rico desde os 17 anos. É mãe solteira do seu filho adulto Emmanuel, que recentemente voltou para a República Dominicana e começou uma família.

Carmen também é cuidadora de idosos, função que a obriga a ser altruísta e protetora. E quando o furacão Maria afetou Porto Rico em 2017, Carmen e a sua comunidade uniram-se para reconstruir e curar.

Carmen é conhecida por ser uma unificadora na sua comunidade. Quando um homem idoso ficou doente, ela arranjou uma forma de os seus vizinhos e ela própria trazerem suprimentos: lençóis, toalhas e muito mais. E enquanto ele estava internado, ajudou a cuidar dele.

Ela diz que a sua comunidade apoia uns aos outros dessa maneira com frequência: os vizinhos dão boleias para consultas médicas, ajudam com reparações em casa e consertam os carros uns dos outros. "Há muita sensibilidade aqui", sorri Carmen. "As pessoas gostam mesmo de ajudar."

Durante o furacão Maria, Carmen ficou com uma mulher idosa de quem cuidava, que morava no terceiro andar de um prédio de apartamentos em Miramar, Santurce. "Tive de ficar com ela durante sete dias seguidos, pois a outra pessoa que cuidava dela não conseguia voltar ao trabalho porque as estradas estavam bloqueadas com árvores", explicou Carmen.

Enquanto litros de água e partes de árvores caíam na varanda da sua paciente, Carmen fez o possível para limpar todos os detritos sem ela perceber. Carmen estava determinada a mantê-la alheada da tempestade que acontecia lá fora. Mas, mesmo assim, continuavam a ouvir os ventos ferozes a uivar pela casa.

"Nunca vi um furacão tão forte como aquele", diz Carmen. "Ouvimos falar sobre furacões, mas vivê-los é uma história diferente. Ouvir falar não é o mesmo que ver."

Carmen voltou para casa para a encontrar severamente danificada. O telhado dela cedeu, o chão ficou inundado e ficou sem energia durante meses.

O furacão Maria diminuiu no espaço de uma semana, mas os efeitos colaterais duraram meses que se transformaram em anos. Os bairros sofreram falhas de energia, as casas foram destruídas e mais de 3 mil vidas foram perdidas. As organizações de base estiveram entre as primeiras a apoiar os esforços de resposta a desastres e a continuar a reconstruir a ilha.

A ajuda mútua, um sistema liderado pela comunidade no qual as pessoas se apoiam mutuamente ao partilhar recursos, dinheiro e tempo, desempenhou um papel importante na recuperação de Porto Rico. Ainda hoje é vista com organizações sem fins lucrativos, como a parceira SBP da Airbnb.org, uma organização de impacto social focada na resiliência e recuperação de desastres.

A SBP é uma organização sem fins lucrativos que reconstrói casas após grandes desastres. As equipas de mobilização foram enviadas logo após o furacão; o capítulo oficial de Porto Rico começou em julho de 2018. A SBP e a Airbnb.org fazem uma parceria para garantir que as pessoas têm alojamentos enquanto as suas casas estão a ser renovadas.

"Estamos numa zona propensa a furacões, por isso já passámos por tempestades e furacões antes. Mas nada com a gravidade do furacão Maria", diz Edgardo Maldonado, Diretor Executivo da SBP Porto Rico e membro da comunidade de Carmen.

O bairro de Carmen foi a primeira comunidade que a SBP ajudou em Porto Rico, e a casa de Carmen foi a primeira missão de Edgardo em 2019. Edgardo e os empreiteiros da SBP não sabiam dos danos na casa de Carmen até começarem a trabalhar. Logo perceberam que a madeira estava a apodrecer e a rede elétrica e o telhado precisavam de ser substituídos.

Com a generosidade da nossa comunidade, Carmen e o seu cão puderam ficar com uma anfitriã chamada Angel, que lhe proporcionou um espaço confortável no mesmo bairro.

"Penso que a Carmen ficou muito feliz por saber que a sua casa ficava na mesma comunidade", diz Edgardo. A proximidade permitiu que Carmen trouxesse o seu cão de volta para casa diariamente para o alimentar e, no final da reconstrução, Carmen ajudou a pintar a sua casa juntamente com os voluntários e empreiteiros.

"A minha casa parecia abandonada, como se ninguém morasse lá", diz Carmen. "Agora a casa tem bom aspeto e está mais segura. Os meus vizinhos também receberam alguma ajuda (de outras organizações). Sinto que a benção se espalhou por toda a comunidade."

Carmen lembra-se da sua estadia com carinho e alegria. Como cuidadora habituada a tratar dos outros, este foi um momento de inversão de papéis. Descansar longe de casa, sem estar muito longe de casa, era a sua parte favorita. "Ah, e o ar condicionado", Carmen ri.

Enquanto Carmen meditava sobre os pontos fortes do seu caráter, a sua comunidade e a sua casa, regressou à natureza. "Já passei por batalhas e dificuldades duras. Mas, afinal de contas, sou escorpião", diz ela. "Somos o único no Zodíaco que tem três: o pássaro voador, a serpente rastejante e o escorpião. Nós sobrevivemos, até no subsolo."